#9 - Uma viagem no tempo com Akira Toriyama
O jogo mais atemporal (trocadilho não intencional) de todos os tempos
Em 1º de março de 2024, nós perdemos um genial criador de personagens e histórias, Akira Toriyama.
Eu jamais me esquecerei dessa lenda, que foi um dos criadores de uma das maiores obras de arte já feitas.
Sim, meu povo, estou falando de Chrono Trigger (CT), lançado em 1995, pela Square, para Super Nintendo, co-criado com outros gênios: Hironobu Sakaguchi (criador de Final Fantasy) e Yuji Horii (criador de Dragon Quest).
Embora o jogo seja todo pixelado, dá pra ver o dedo de Toriyama no design artístico fabuloso, especialmente dos personagens:
CT era bom em 1995? Não! Era perfeito.
Como se compara aos jogos feitos agora, em 2024? rsrs. Não tem comparação.
Com as inovações que surgiram ao longo de quase 30 anos desde seu lançamento, o que poderia ser melhorado nesse jogo? NÃO MEXAM EM CHRONO TRIGGER!
Talvez para remover aquela corrida entediante em 2.300 DC.
Mas então, o que faz de CT um clássico atemporal?
Trilha Sonora
Yasunori Mitsuda e Nobuo Uematsu criaram a melhor Original Soundtrack (OST) de qualquer jogo lançado ou a ser lançado no futuro.
Nunca uma aventura foi tão bem embalada por uma música quanto em CT.
As minhas favoritas são:
Também é possível encontrar versões orquestradas, mas o som da era 16-bit também tem seu valor.
Uma viagem pixelada pelo tempo
À primeira vista, CT não propõe nada de muito diferente dos RPGs japoneses (JRPGS) de sua época, como Final Fantasy, Dragon Quest ou Phantasy Star.
É uma leitura japonesa sobre temas e períodos populares no Ocidente (em especial a época medieval), possui gráficos 2D e tem um combate por turnos (que significa que cada personagem executa uma ação por vez, em sequência).
Embora isso seja verdade, os criadores adicionaram um conjunto de temperos que fazem desse jogo algo tão especial.
Comparado a Final Fantasy, é um JRPG muito mais simples de entender no início e as mecânicas de combate vão ganhando complexidade numa curva de aprendizagem quase perfeita.
A história é fácil de entender (Ugh! Final Fantasy…), é poderosa e épica. Todos os personagens jogáveis tem backstories interessantes e exploráveis ao longo do jogo, passando uma impressão de várias camadas.
Falando em camadas, o jogo se passa num mesmo “lugar”, um mapa relativamente pequeno, mas ao longo de várias épocas no tempo. Da pré-história ao pós-apocalipse. A equipe que se junta para salvar o mundo vem desses períodos.
Não é um jogo longo, nem curto. Quando começam a aparecer sinais de que não há mais mecânicas de combate para aprender ou coisas divertidas para fazer, o jogo termina. No entanto, após zerar pela primeira vez, abre-se um sensacional “Novo Jogo+” e é possível obter, nada mais nada menos, que 15 finais diferentes.
E existe uma ousadia na proposta de viagem no tempo, em que as várias passagens dos personagens pelo passado alteram o futuro, com resultados tão inesperados que criam um dinâmica quase impossível de ser recriada sem parecer uma cópia.
Sea of Stars, lançado em 2023, por exemplo, é uma homenagem direta a CT e um bom jogo. Resgata alguns dos elementos que o tornam tão distinto, mas não chega nem perto da qualidade da criação de Toriyama, Sakaguchi e Horii.
Combate: complexo na medida certa e divertido
Mesmo para quem gosta muito de jogar, JRPGS oferecem uma barreira quase intransponível de acessibilidade, que é a complexidade das batalhas por turno.
Especialmente na geração do Playstation 1 e Playstation 2, o combate por turnos tomou uma proporção assustadora, com tantas opções, restrições e combinações de magia que chega a assustar.
Andei jogando Final Fantasy 7 (o original, do Play 1, no celular) e é maravilhoso mergulhar na complexidade do combate, pesquisar e planejar sobre a melhor composição de habilidades e equipes, mas é uma trabalheira.
Já em Chrono Cross (sequência de CT), eu não consigo entender nada das mecânicas de combate.
CT não exige nada disso. É só baixar ai no seu celular, começar a jogar e descobrir as coisas naturalmente. Também não é um jogo difícil, mas para superar os desafios no final, é necessário ter acumulado um certo entendimento das mecânicas de combate.
Mas essa simplicidade não quer dizer que o jogo não tem suas surpresas. Os personagens utilizam técnicas conjuntas (em duplas ou trios) que podem ser muito úteis em batalhas específicas e que são um deleite visual. Olha que maravilha em 16-bits:
Ao contrário de outros jogos por turno, CT conta com uma barra de ação em que os personagens mais rápidos agem primeiro, e se você não agir no tempo certo, pode até perder seu turno. Isso torna o combate mais dinâmico, impedindo que o jogo fique com aquele ritmo arrastado de alguns JRPGS.
Vá para o passado, altere o futuro, salve o mundo!
Mas o que torna CT realmente especial é sua proposta de Storytelling.
Crono participa de um experimento com uma máquina de teletransporte criada por sua amiga Lucca, que acaba dando errado e se transforma numa máquina do tempo. Depois de voltar à era medieval para salvar sua outra amiga, Marle, eles descobrem que num futuro não muito distante (1999 DC), o mundo acaba.
Começa então a jornada para salvar o mundo de Lavos, uma criatura responsável pelo apocalipse.
Voltando e avançando no tempo, Crono vai conhecendo outras pessoas e momentos históricos que se relacionam com Lavos, numa tentativa de descobrir como impedi-lo. As ações desse grupo vão afetando o futuro e conforme o jogo avança, é possível ver os efeitos nos cenários, na vida dos personagens principais e secundários e até nas sociedades que compõem o pequeno universo de CT.
É simplesmente mágico.
Valeu, Toriyama!
Akira Toriyama criou personagens e universos inesquecíveis e só tenho a agradecer a ele por essas histórias.