Silent Hill é uma cidade fictícia onde vários jogos de Terror, da franquia de mesmo nome, se passam. O primeiro jogo, Silent Hill 1, foi lançando em 1999 para o Playstation e se tornou um marco para a indústria e um dos pilares da Konami, a empresa japonesa que fez os jogos.
Naquele período (1999-2001), o propósito de qualquer jogo de Terror era bater de frente com Resident Evil, da também japonesa Capcom. Embora Silent Hill nunca tenha chegado nem perto das vendas da franquia rival, sedimentou nas nossas mentes um conceito de Terror Psicológico incomparável.
Esse texto é uma homenagem à cidade e a todos os momentos de tensão que ela já me fez passar.
A trilha sonora
A trilha sonora (original soundtrack - OST) da franquia é muito boa. Encaixa-se perfeitamente ao clima dos jogos, ajudando a criar ansiedade e tensão. Destacaria a de Silent Hill 3, que vai numa direção de músicas mais modernas, quase rock, sem comprometer a atmosfera.
Confira as músicas que mais gosto para você tocar enquanto lê:
Histórias inesquecíveis num ambiente tenebroso
Para mim não tem nem discussão: as histórias e o clima de Terror de Silent Hill são muito melhores que de Resident Evil (eu também sou fã de RE, por favor não me batam).
Enquanto a Capcom apostava em histórias rocambolescas, com soldados-cientistas-vírus-zumbis-bombasnucleares, a Konami nos apresentou uma cidade pequena nos Estados Unidos onde os acontecimentos são motivados por forças místicas e cultos demoníacos. Esses agentes existem numa espécie de simbiose com a cidade e são eles que causam todo tipo de tormentos ao longo da série (vou me ater aos jogos 1 a 4 que são os que conheço).
Por conta disso, todos os conflitos são intimistas e palatáveis, por mais que cobertos por camadas de bizarrice e mirabolância. Dá pra sentir a raiva e o medo pulsando nos protagonistas.
A joia da coroa é a história de Silent Hill 2, uma que considero das melhores de todos os tempos e que foi profundamente inspirada em Crime e Castigo, de Dostoiévski.
Ao mesmo tempo que é tudo muito confuso e com conceitos complexos, o jogo faz um ótimo trabalho de te imergir nos conflitos dos personagens aos poucos. Tudo começa quando o protagonista, James Sunderland, recebe uma linda carta de sua esposa, Mary Sunderland:
Em meus sonhos inquietos, eu vejo aquela cidade.
Silent Hill.
Você prometeu que me levaria lá novamente algum dia. Mas você nunca fez isso. Bem, eu estou sozinha aqui agora... em nosso “lugar especial”...
Esperando por você...
O único problema é que Mary morrera três anos antes da carta chegar…
Óbvio que James foi para Silent Hill descobrir o que estava acontecendo, quem não iria?
Se o gancho parece bom, o desenrolar e o final são melhores ainda! James vai avançando pela cidade à procura de Mary e vai esbarrando em criaturas sinistras que se escondem na neblina e em versões perturbadoras da realidade. E não existe um final único, o que acontece na última cena depende diretamente da forma como você joga e algumas opções que toma em momentos cruciais.
O vilão principal, Pyramid Head, que surge várias vezes durante o jogo para te atormentar, parece ser apenas um monstro genérico sem sentido, mas possui uma motivação sensacional, relacionada à psiquê dos personagens.
Aliás, quase todos os monstros e mecânicas se relacionam à temática-mestra de cada jogo:
Silent Hill 1: paternidade
Silent Hill 2: culpa
Silent Hill 3: maternidade
Silent Hill 4: gestação
No quarto jogo da série, por exemplo, você enfrenta o serial killer Walter Sullivan, que acredita que ressuscitará a mãe dele após sacrificar 21 vidas em homenagem a ela. O detalhe é que ele acha que a mãe dele é um quarto.
Sim, um quarto, dentro de um apartamento.
Para conseguir matá-lo, ao final, você precisa utilizar uma arma secreta, o cordão umbilical de Walter, que o zelador do prédio onde ele nasceu se sentiu compelido a guardar em casa.
E faz sentido, né? Se a mãe de Walter é um quarto no prédio, é mais do que dever do zelador de zelar pela propriedade do imóvel.
Vou deixar a recomendação de uns vídeos, ao final do texto, que detalham a razão de existir de cada monstro, além de recontar as histórias dos jogos.
Uma leitura japonesa da cultura americana
Embora produzidos por empresas japonesas, tanto Silent Hill quanto Resident Evil se passam em solo e com personagens americanos.
Isso criou várias contradições culturais nos personagens que, quando adolescente, me deixavam muito confuso ao jogar, mas que se somam à atmosfera insólita dos jogos.
O Terror americano não-lovecraftiano (especialmente ali por meados dos anos 2000) costumava ter uma linha mais seca, que coloca uma explicação para tudo, que quer te assustar com figuras conhecidas da religião cristã.
Já a linha de Silent Hill é mais sutil, aberta e bizarra.
Um serial killer que quer reviver a mãe, que ele acredita ser um quarto, após matar 21 pessoas… quem definiu esse ritual? Vai dar certo? Por que o cordão umbilical é seu ponto fraco? Não sei, mas existem várias teorias nos fóruns da internet (realmente tem um número absurdo de pessoas teorizando sobre essas coisas). Isso também se reflete nos finais dos jogos, que são múltiplos e contraditórios entre si.
Um cenário que se transforma e te “avisa”
Um aspecto que, pra mim, contribui muito para o clima de tensão único que esses jogos proporcionam é que você nunca está controlando alguém que quer fugir. Os protagonistas estão dispostos a descobrir que merda que está acontecendo e não desistem por nada.
Encontrou um caminho novo para seguir ou uma charada para resolver? É certeza de que você só vai se embrenhar mais ainda nos confins bizarros da cidade.
Por sinal, os jogos te sinalizam, fazendo um foreshadowing, de quando as coisas vão se intensificar.
Você começa a andar no corredor de um colégio que te parece normal, embora escuro, abandonado e melancólico. De repente a cidade ganha vida. Tentáculos aparecem no chão, as paredes ganham uma camada gosmenta e que se mexe, barulhos indecifráveis surgem e os monstros vêm.
Se parece enlouquecedor estar nessa situação, é porque é mesmo. Avançar nesses jogos traz uma sensação angustiante que nunca senti com outras experiências.
Gostei! Como faço para experimentar Silent Hill?
Não é fácil encontrar os jogos antigos da série e talvez você não precise fazer isso agora. A Konami anunciou novos jogos de Silent Hill, incluindo um remake de Silent Hill 2 (o melhor de todos), além de um filme inspirado nesse último.
Todos os fãs ficaram animados, mas também com o pé atrás. A Konami não tem tratado bem suas franquias (veja o que fizeram com a franquia do Pro Evolution Soccer - PES) e já se vão muitos anos desde o último Silent Hill.
EU CONFIO! A esperança é a última que morre… mesmo que seja num porão escuro de um hospital, tendo suas energias sugadas durante 7 anos.
Ainda vale jogar os antigos? Na minha opinião, vale jogar o 2, 3 e 4. Embora não sejam tão acessíveis quanto jogos mais recentes - a exemplo de Resident Evil 2 Remake -, ainda resistem à passagem do tempo. Jogar o 1 é mais complicado e também não sei onde encontrá-lo.
Os únicos pontos de compra que encontrei foram:
Existe um filme, Terror em Silent Hill (2006), que é um bom filme. Na data desta postagem ele constava no catálogo da Netflix.
Por fim, é possível ver vídeos no Youtube que recontam a história e mostram o gameplay, existem inúmeras opções. Vou largar na próxima seção.
Recomendações e Fontes
Seguem alguns links que me ajudaram a fechar os detalhes desta edição da universos sombrios, ou coisas que esbarrei por aí e gostei:
Canal do Sandman - conta a história dos jogos, os detalhes dos monstros e tem um vídeo que descreve todos os cultos que existem na cidade. O cara é fera.
Gameplay completa de SH2 - esse vídeo mostra uma pessoa jogando o SH2 do início ao fim.
Artigo - Garotas no Controle - esse artigo traz muitas ideias semelhantes ao que escrevi aqui, mas é focado no SH1.
ótimo post meu velho. To ansiosásso pelo remake do silent hill, e a música de abertura, até hoje me causa um misto de arrepio com nostalgia. Intensa e trágica na medida certa. Um clássico!
Mano, nunca joguei Silent Hill... Mas fiquei com vontade depois de ler esse texto. Amei, parabéns!